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terça-feira, 15 de março de 2011

Catástrofe deve gerar consequências econômicas no Brasil

Texto publicado em 15 de Março de 2011 - 07h59

O terremoto que ocorreu no Japão também pode gerar efeitos na economia brasileira. Enquanto empresas de seguros devem sofrer os impactos das perdas globais do setor, outros segmentos, como alimentos, aço e minérios, podem aumentar suas vendas para o mercado japonês a longo prazo, devido à necessidade de reconstrução do país.


Segundo pesquisa da empresa norte-americana AIR Worlwide, a catástrofe pode consumir até US$ 35 bilhões da indústria de seguros japonesa. No entanto, como o setor é muito interligado em nível global, com grande quantidade empresas multinacionais ou associadas com operações em outros países, os efeitos dessas perdas podem ser sentidos no Brasil também. "Já vimos a mesma situação quando o furacão Katrina atingiu Nova Orleans em 2005, causando US$ 21 bilhões de prejuízo e afetando o mercado de seguros em escala mundial", explica Marco Pontes, diretor da consultoria LG&P Advisory Services e membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP).


Atualmente, atuam no Brasil as seguradoras japonesas Yasuda, Mitsui e Tokio Marine, que em um primeiro momento podem ser as mais afetadas. No entanto, outras empresas multinacionais que possuem cotas de participação em coberturas de risco de companhias japonesas também podem sofrer consequências.


Para o Grupo Lloyds, uma das maiores seguradoras do mundo, ainda é cedo para comentar qualquer potencial impacto nos negócios. "O Lloyd’s está comprometido em fornecer cobertura para o mercado japonês e nossa prioridade é o rápido atendimento e o suporte às seguradoras locais", afirmou Marco Antonio de Simas Castro, diretor-presidente do Escritório de Representação do grupo no Brasil. Segundo ele, o mercado da empresa poderá responder a qualquer solicitação de indenização no curso normal dos seus negócios.

Já outros setores econômicos esperam que a necessidade de investimentos na reconstrução do Japão resulte em maiores negócios. Um dos segmentos otimistas é de minério de ferro, principal produto importado pelos japoneses do Brasil. Em 2010, ele representou 35,47% dos US$ 7,14 bilhões das exportações brasileiras para o país asiático. "Não sabemos ainda a abrangência das perdas, mas com a destruição de boa parte da infraestrutura da região afetada pelo tremor, eles terão que realizar muitas obras que demandam minério", afirma Antonio Lannes, gerente de dados econômicos do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

Exportação de frango pode ser beneficiada

A carne de frango é outro produto brasileiro que pode ser beneficiado a longo prazo após a tragédia no Japão. "A destruição da infraestrutura também prejudica a produção interna de carnes, o que deve contribuir para a compra de produtos acabados", explica Aedson Pereira, analista da consultoria Informa Economics FNP. Segundo o especialista, como o Japão é um grande consumidor de alimentos, o mercado de commodities tem a tendência de sofrer quedas após catástrofes no país, como ocorreu com o terremoto de Kobe em 1995, No entanto, essa é uma situação passageira. "Eles precisam suprir as necessidades da população, o que garante uma demanda mais firme", destaca.

Atualmente, o Japão consome cerca de um quinto da carne de frango brasileira exportada. Em 2010, isso representou US$ 900 milhões, dos quais US$ 125 milhões foram adquiridos do Rio Grande do Sul, o que representa 56% das exportações gaúchas no ano.

Para Francisco Turra, presidente-eecutivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Ubabef) a catástrofe não ameaça as vendas do setor para o Japão. "Eles estão honrando os contratos, e nenhum carregamento recebeu avisos para ser atrasado ou mudar de rota", informa. O dirigente lembra que a carne de frango é uma fonte de proteína barata, o que é ideal para alimentar populações em tempo de crise. "Eles têm que garantir comida para o povo, e como não mantêm grandes estoques isso deve significar que as compras externas estão garantidas", lembra.

Paralisação atinge montadoras, fábricas de eletrônicos e varejo

Para poupar energia no Japão, uma lista crescente de companhias - de montadoras a fábricas de eletrônicos de consumo até siderúrgicas e lojas de varejo -, estão suspendendo parte de suas operações afetadas pelo terremoto e também para lidar com as interrupções previstas de energia.

As principais montadoras japonesas estenderam as paralisações pelo menos até amanhã. A Toyota manterá a suspensão da produção em todas as suas fábricas até amanhã, o que deve resultar na perda de produção de 40 mil veículos. A Honda ampliará a paralisação de todas as suas fábricas até o domingo, resultando na perda de produção de 16.600 veículos. A Nissan Motor parou as operações de duas fábricas nas províncias de Tochigi e Fukushima até sexta-feira e outras quatro unidades no sul do país até amanhã. Suzuki e Mitsubishi também pararam e avaliam a retomada das atividades.

A indústria de eletrônicos Hitachi suspendeu as operações de suas seis fábricas onde são produzidos vários tipos de produtos, incluindo aparelhos eletrodomésticos, autopeças, elevadores e sistemas de geração de energia.
As siderúrgicas JFE Holdings e Nippon Steel suspenderam a produção temporariamente para ajudar a reduzir o consumo de energia no país. Outros setores, como turismo, podem enfrentar dificuldades para se ajustar.
Na Tailândia, por exemplo, cerca de 70 mil pessoas já cancelaram reservas de viagens ao Japão por causa do medo de vazamentos radiativos. Alguns japoneses também devem cancelar seus planos de visita à Tailândia. A Associação de Agentes de Viagem da Tailândia pede que seus membros ofereçam reembolso de 100% aos turistas tailandeses que cancelaram os planos de viagens e pedirá que as aéreas devolvam 100% do dinheiro pago.

Problemas atingirão economias da Ásia no curto prazo

Os problemas que afetarão o Japão após o terremoto e o tsunami devem ter repercussões na Ásia nas próximas semanas, complicando mais o quadro econômico da região num momento em que os países já sofrem com os preços do petróleo e dos alimentos, afirma o The Wall Street Journal.

A Ásia ainda deve apresentar crescimento vigoroso neste ano, com estimativas de expansão de 7,5% a 8% do PIB excluindo o Japão. Os economistas preveem que o crescimento vai desacelerar em relação a 2010, quando o aumento do PIB regional superou 9%.

Os problemas do Japão "terão impacto na economia global, que, por sua vez, vão se voltar para nós", disse o ministro de assuntos externos de Cingapura, George Yeo. "Combinado com as incertezas no Oriente Médio, acho que o mundo está entrando numa nova fase, e temos de estar muito alertas e não tomar as coisas como certas, nem sermos confiantes", disse.


País tentará resfriar usina nuclear

O Japão solicitou o auxílio dos Estados Unidos para controlar a situação em suas usinas nucleares danificadas, após o terremoto e o subsequente tsunami ocorridos na sexta-feira passada, afirmou ontem a comissão regulatória nuclear dos EUA. O governo japonês pediu formalmente a assistência, no momento em que continua a responder às questões relativas ao resfriamento da usina nuclear geradas por um terremoto e um tsunami em 11 de março", afirma a agência, conhecida pela sigla NRC em inglês. "Como parte de uma resposta mais ampla do governo dos EUA, a NRC está considerando possíveis respostas ao pedido, que incluem o fornecimento de conselhos técnicos."

A NRC já enviou dois especialistas em reatores do mesmo tipo que apresentaram problemas no Japão, como parte de uma equipe da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). "Eles estão atualmente em Tóquio oferecendo assistência técnica." Além disso, a NRC monitora a situação nos reatores japoneses de sua sede em Maryland 24 horas por dia, porém, "não irá comentar de hora em hora os acontecimentos dos reatores japoneses". A agência nota que essa questão é primariamente de responsabilidade do Japão.

Mais cedo, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que Tóquio solicitou uma equipe de especialistas da AIEA para ajudar no caso. Logo após o violento terremoto da sexta-feira, foram detectados problemas na usina nuclear em Fukushima, 250 quilômetros a Nordeste de Tóquio.

A possibilidade de a crise na usina nuclear em Fukushima agravar-se a ponto de alcançar o nível atingido em Chernobyl é remota, disse ontem o secretário-geral da AIEA, Yukiya Amano. "Deixe-me dizer que a hipótese de que a evolução desse acidente passe para algo como Chernobyl é bastante improvável", garantiu Amano.

Já o chefe da agência de segurança da França, Andre-Claude Lacoste, disse que o acidente em Fukushima é "pior que o de Three Mile Island, mas não tão grande como Chernobyl". O episódio em Three Mile Island ocorreu em 1979, na Pensilvânia, e é considerado de grau 5, em uma escala que vai de 0 a 7. O de Chernobyl é classificado como de grau 7. Ocorrido em 1986, o acidente na cidade ucraniana é considerado o pior desastre nuclear da história. Segundo um relatório da ONU, 2,3 milhões de pessoas foram afetadas.

O alerta disparado pelo acidente nuclear no Japão irá paralisar e adiar novos projetos de energia nuclear na Europa. A catástrofe ampliou a percepção de risco desse tipo de matriz, pois atingiu um país considerado preparado para lidar com emergências.

As primeiras reações surgiram imediatamente em países como Alemanha e Suíça, que decidiram rever seus planos no setor. Os projetos nucleares já estavam imersos em controvérsias e sob forte pressão dos ambientalistas e da população. Agora, o acidente na usina em Fukushima chamou ainda mais atenção para o tema.

Número de mortos chega a 1,8 mil

A polícia japonesa elevou ontem para 1.886 o número de mortos pelo terremoto de magnitude 8,9 que atingiu o país na sexta-feira. Outras 2.329 pessoas ainda estão desaparecidas, enquanto as autoridades estimam que o saldo final de vítimas ultrapasse os dez mil. O primeiro-ministro Naoto Kan qualificou o terremoto e o tsunami como a pior crise no país desde o fim da Segunda Guerra. A agência Associated Press afirma que há mais de 2.800 mortes confirmadas oficialmente, com mais de 1.400 pessoas desaparecidas.

A Agência Meteorológica do Japão cancelou o alerta de tsunami emitido na noite de domingo (manhã de segunda na Ásia), após um terremoto de magnitude 6,2 na escala Richter, registrado a 150 quilômetros de Tóquio, na província de Ibaraki, e que fez balançar prédios altos na capital japonesa. Este tremor foi a mais recente das 280 réplicas que vêm ocorrendo desde sexta-feira.

Logo após o tremor, a agência Kyodo citou uma autoridade dizendo que ondas de até três metros poderiam atingir a costa, incluindo a província de Fukushima, o que causou pânico na população. Algum tempo depois, a agência meteorológica cancelou o alerta.

Um consulado brasileiro itinerante vai começar a funcionar a partir de hoje nas regiões mais afetadas pelo terremoto no Japão, segundo o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. O objetivo é levar mantimentos e suprir outras necessidades básicas, completou o chanceler. Em Fukushima, residem cerca de 400 brasileiros, de acordo com o ministério.

Fonte: Jornal do Comércio - RS

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